Empoderamento feminino sem fronteiras

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Valdir Lamim-Guedes / Eliane Santana / Luciene Silva Souza /Paulo Guilherme Martins da Rocha

Instituto Educadores Sem Fronteiras.

Address: Rua Capão Redondo, 794; Jardim Santa Margarida, São Paulo/SP 04931-100

 Phone number: +551136732066

e-mail: contato@educadoressemfronteiras.org.br / web: http://www.educadoressemfronteiras.org.br/

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Resumo: A Igualdade de Gênero e o empoderamento das mulheres são Direitos Humanos e pré-requisitos para o sucesso do desenvolvimento socioeconômico, sendo ações para redução da pobreza, construção da governabilidade democrática, prevenção de crises, recuperação e promoção do desenvolvimento sustentável. Neste texto, a Educação é apresentada como uma importante iniciativa para promover o empoderamento feminino, tomando por base as atividades da Organização Não Governamental brasileira Educadores sem Fronteiras. Esta organização, ao fornecer ações educativas complementares gratuitas em regiões de alta vulnerabilidade sócio-cultural-educacional, permite que diversas meninas passem a ter suas histórias de vida transformadas por meio da Educação.

Palavras-chave: educação, direitos humanos, igualdade de gênero, Educadores sem Fronteiras.

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Female Empowerment Without Borders

Abstract: Gender equality and women’s empowerment are Human Rights and prerequisites for the successful development, and actions to reduce poverty, build democratic governance, crisis prevention and recovery, and promoting sustainable development. In this paper, Education is presented as an important initiative to promote female empowerment, based on the activities of Non Governmental Organization Brazilian Educadores sem Fronteiras. This organization, by providing free complementary educational activities in areas of socio-cultural-educational high vulnerability allows several girls start to take their life stories transformed through education.

Keywords: education, Human Rights, gender equality, Educators Without Borders.

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A educação é um direito que exige acesso igualitário à educação de boa qualidade para todos; um processo educacional no qual meninas e meninos, bem como mulheres e homens, tenham oportunidades equivalentes de desenvolver plenamente seus talentos e de alcançar resultados que confiram benefícios sociais e econômicos a todos os cidadãos, sem discriminação. (UNESCO, 2003).

Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos e têm direito à instrução (ONU, 1948). Ambos são Direitos Humanos, adotados pela Assembleia Geral das Nações Unidas desde 10 de dezembro de 1948. No entanto, a desigualdade étnica e de gênero demonstram o desrespeito a eles.

Em 2000, 57% das 104 milhões de crianças que não frequentavam a escola eram meninas, e dois terços dos 860 milhões de adultos analfabetos eram mulheres. Em nenhuma sociedade, as mulheres desfrutam das mesmas oportunidades educacionais oferecidas aos homens. Sua jornada de trabalho é, além de mais longa, pouco reconhecida. Suas oportunidades e opções de vida são mais restritas que as dos homens.

Na figura abaixo, é clara a relação entre gênero e etnia com uma maior taxa de desemprego (Unifem e Unicef, 2004).

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Segundo Koïchiro Matsura, Diretor Geral da UNESCO entre 1999 e 2009, movimentos como a Educação para Todos (EPT) tratam, basicamente, da igualdade: “Se as crianças forem excluídas do acesso à educação, elas serão privadas de seus direitos humanos e impedidas, da forma mais básica, de desenvolver seus talentos e interesses” (Unesco, 2003, p. 1). O EPT e outros movimentos como o Educação Global, a Educação para a Paz e aqueles que promovem uma Educação Critica, reconhecem o papel político da educação, como fez o pedagogo brasileiro Paulo Freire (1921-1997) em sua obra, sobretudo ao apresentar uma concepção libertadora da educação (Freire, 2002).

Entre os Objetivos do Milênio, o 3 se refere à promoção da igualdade entre os sexos e à autonomia das mulheres, eliminando as disparidades em todos os níveis de ensino. Isto é, superar as divergências no acesso à escolarização formal e promover políticas que ofereçam oportunidades para mulheres ocuparem papéis cada vez mais ativos no mundo econômico e político, ações essenciais para a superação das desigualdades de gênero (OdmBrasil, 2014). O empoderamento (empowerment, em inglês,) das mulheres é importante não apenas para o cumprimento do objetivo 3, mas para vários outros, em especial os ligados à pobreza, fome, saúde e educação. No Brasil, as mulheres já estudam mais que os homens, mas ainda têm menos chances de emprego, recebem menos do que homens trabalhando nas mesmas funções e, quando não ocupam os piores postos (Pnud, 2012).

Entre os Sete Princípios de Empoderamento das Mulheres: igualdade significa negócios, propostos pelo Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (UNIFEM), o 4º. se refere à promoção da educação, ao treinamento e desenvolvimento profissional das mesmas (Unifem, 2010). Ou seja, o reconhecimento do papel da educação na promoção da igualdade financeira para as mulheres. Bem como, o estimulo a esforços para que as mulheres tenham igualdade de acesso à educação elementar, mas incluindo-se a profissionalizante, ao passar a frequentar os bancos universitários. Isto passa a ser especialmente importante se considerarmos que as exigências são maiores em relação à formação feminina para ocupar melhores cargos.

A educação, em diferentes níveis, deve ser um esforço da sociedade, como de políticas públicas, visando a igualdade de gênero. O princípio 6º, trata de “promover a igualdade através de iniciativas comunitárias e de defesa”. Estes dois princípios de Empoderamento das Mulheres são complementares, pois devem ser desenvolvidos dentro das comunidades, com o apoio do Estado.

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A qualidade da educação básica pública no Brasil é baixa, sobretudo nas escolas das periferias, como no bairro Jardim Ângela, região sul da cidade de São Paulo. A Organização não Governamental Instituto Educadores Sem Fronteiras (ESF), nascida em 2008 a partir do sonho de Nádia (co-fundadora do Instituto) de entrar na Universidade de São Paulo (USP) (mais sobre este sonho em Blog da Redação, 2008), desenvolve um importante trabalho de permitir aos educandos complementar os estudos formais fora do período escolar. Isto tem sido essencial para os oitenta educandos atendidos no projeto, entre Ensino Fundamental (ciclo II) e Ensino Médio. 

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Este trabalho está em consonância com a Missão do ESF que é de “apoiar crianças e adolescentes em risco social, proporcionando o desenvolvimento das potencialidades do cidadão, através da educação complementar e da democratização do conhecimento” (Educadores Sem Fronteiras, 2013). A atividade principal do ESF é a de proporcionar educação complementar gratuita em regiões de alta vulnerabilidade sócio-cultural-educacional – Jardim Ângela e na região oeste de Sâo Paulo, próximo ao Conjunto Habitacional (Cohab) Raposo Tavares -, oferecendo aulas transdisciplinares, com vários elementos lúdicos e conectadas com a realidade dos alunos e também encontros e expedições culturais que possibilitem, além do acesso, a construção autônoma do conhecimento. Assim, se pode “instigar a curiosidade, resgatar o fascínio, democratizar e viabilizar sonhos…”.

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Com o apoio extra, muitos educandos conseguem entrar em um curso técnico ou superior, o que para o Instituto é o resultado de uma grande superação pessoal, sobretudo, para as meninas. Ou seja, o ESF proporciona um empoderamento empírico e científico para estas jovens, permitindo-lhes que reescrevam suas histórias. A seguir, destacamos algumas dessas histórias de vida que encontraram um colorido novo por meio da Educação.

Quando eu entrei no Educadores Sem Fronteiras, não imaginava a importância que esse lugar teria pra mim. Mesmo sem gostar de estudar, me esforcei porque sabia que precisava passar em uma boa faculdade; e com o método de ensino “Sem Fronteiras”, descobri que estudar pode ser muito legal! Apenas um semestre como educanda me fez refletir sobre muitas coisas e mudar meus conceitos sobre educação! Hoje, sou bolsista em uma das melhores faculdades do país e continuo em busca do saber, porque descobri que eu sou Sem Fronteiras!

Thawane, educanda do ESF em 2010, uma das primeiras colocadas do curso de Administração do Centro Universitário da Faculdade de Engenharia Industrial (FEI) em 2011. É estagiária do setor administrativo financeira do ESF. Na reportagem da Rede Globo (2012), além da descrição das atividades do ESF, há um vídeo com um trecho do depoimento da Thawane. 

Os Educadores, na minha vida, fechou um ciclo que eu não conseguia concluir sozinha. Tive que estudar por cerca de três anos solitariamente, até que entrei na faculdade e em seguida, conheci a ONG.

Comecei a estudar aos sábados com os educadores, enquanto cursava o primeiro ano de faculdade, pois sentia que ali algo importante iria acontecer. Percebi como é fácil aprender quando se tem professores interessados no seu crescimento, em turmas pequenas, disponíveis a tirar as suas dúvidas a qualquer momento, não somente durante as aulas. Lamentei não os ter conhecido antes, pois teria encurtado o caminho longo que percorri.

O aprendizado que me proporcionaram foi muito além de matemática, física ou biologia, porque foi humano, real, profundo. Eles ensinam a sociedade, o universo em que vivemos e que dele podemos fazer nossas escolhas como bem quisermos, desde que para isso dediquemos nosso tempo, nossa mente, seguindo o nosso caminho e respeitando o caminho daquele que está também na mesma estrada que nós. Eles não nos dizem isso, eles nos mostram essa realidade. O Educadores [sem Fronteiras] se importa não só com o nosso intelecto, mas com o que sentimos e isso é que faz a diferença. Depois que os conheci, toda a minha caminhada passou a ter sentido, porque percebi que estava certa em acreditar e ter trabalhado para alcançar um objetivo.

Érica, ex-educanda, estagiária e educadora de raciocínio lógico e letramento do Ensino Fundamental II no ESF. Bolsista do 2º. ano de Design na Faculdade Oswaldo Cruz.

Comecei a frequentar as aulas e os professores eram muito bons, atenciosos e me ajudavam muito, principalmente o Paulo, então eu fui todos os sábados, passava a tarde de sábado lá, aquela distância imensa da minha casa para os Educadores começou a não mais existir para mim, era como se fosse um piscar de olhos ir para lá.

Fernanda, ex-educanda e atual educadora voluntária de biologia e química do ESF. Aprovada entre os primeiros colocados do curso de Nutrição na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) em 2009.

Estes relatos são representativos do poder da educação como meio para o empoderamento feminino, permitindo que os sonhos destas jovens possam ser realizados. A proposta do ESF é de, ao possibilitar o empoderamento das mulheres, também influencie políticas públicas. Com isto, espera-se que o aparato governamental, com suas políticas e serviços públicos prestados, substitua o ESF na promoção da igualdade de gênero e facilitação do acesso à educação. 

Referências

BLOG DA REDAÇÃO. (2008). Educadores sem fronteiras. Planeta Sustentável. Disponível emhttp://planetasustentavel.abril.com.br/blog/blog-da-redacao/126843/

EDUCADORES SEM FRONTEIRAS (2013). Disponível emhttp://www.educadoressemfronteiras.org.br/home#!educadores

FREIRE, P. (2002). Pedagogia da autonomia. 23. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra.

ODMBRASIL (2014). O Brasil e os ODM. . Disponível emhttp://www.odmbrasil.gov.br/o-brasil-e-os-odm

ONU (1948). Declaração Universal dos Direitos Humanos. Disponível emhttp://portal.mj.gov.br/sedh/ct/legis_intern/ddh_bib_inter_universal.htm

PNUD (2012). 3: Igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres. Disponível emhttp://www.pnud.org.br/ODM3.aspx

REDE GLOBO. (2012). Minuto Criança Esperança é gravado na ONG Educadores sem Fronteiras. Disponível em http://redeglobo.globo.com/criancaesperanca/noticia/2012/10/minuto-crianca-esperanca-e-gravado-na-ong-educadores-sem-fronteiras.html

UNESCO (2003). Gênero e Educação para Todos: o salto rumo à igualdade (relatório conciso). Disponível em http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001324/132480por.pdf

UNIFEM (2010). Princípios de Empoderamento das Mulheres: Igualdade Significa Negócios. Disponível emhttp://www.unifem.org.br/sites/700/710/00001126.pdf

UNIFEM e UNICEF (2004). Desigualdades Raciais e de Gênero entre Crianças, Adolescentes e Mulheres no Brasil, no contexto dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Disponível em http://www.unifem.org.br/sites/700/710/00000163.pdf

This article was published on 8th March: International Women´s Day, in Global Education Magazine.

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